Sinopse - Tendemdém (O axé do epô pupá)
- Jefferson Brunner

- 15 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Ventania que bagunça, movimenta e organiza na desordem da transposição dos elementos. Vento do espectro-mulher-búfalo, dona do seu tempo, deusa das tempestades, rainha do dendê que entre bambuzais em sinergia balança seu eruexim e seu mariwó conduzindo ao orum aqueles que já se foram. É ela que sopra e espalha a semente.
Você pode não me conhecer por estes nomes, mas eu sou a palmeira-de-óleo-africana, aabora, aavora, palma-de-guiné, dendém, palmeira-de-dendê, mas o meu sabor você não esquece, eu sou do azeite… eu sou o Dendê!
Sou a cria de igi ôpê, árvore sagrada, símbolo de um povo, raiz de um legado. A fagulha do agueré, o movimento do mariwó, a vida que fortalece. Eu aqueço, energizo, estimulo e esfrio. Apaziguo o equilíbrio e o destino de ifá. O que para um vitaliza, para o outro dispersa.
Na diáspora, fui alimento para os meus irmãos de alma e me liquefiz em saliva e suor para essa gente preta que fez de mim seu receptáculo. Atravessei o atlântico guiado pelos ventos, fazendo da mistura até então impossível o omi oyó e epô pupá não se separariam mais.
Cheguei em novos torrões e renasci, refloresci, dei frutos novamente, me tornando fonte de riquezas para os de pele branca e fundamento para o meu povo.
Fiz girar moendas, socar pilões, arar solos, sustentar economias que pelas mãos besuntadas com meu óleo conquistaram a alforria. De fé inabalável fui oferecido aos orixás, santos, inkisses, voduns. Cantaram, fizeram música, dançaram lundu, jogaram capoeira.
Represento o povo daquela Bahia em que cheguei, o povo do dendê! Estou por todos os lados desde o Pelourinho à feira de São Joaquim, onde sou reduzido e vendido pelos herdeiros daqueles que me levaram em sua saliva e suor. O tempo passa, eu enraízo.
Estou por todos os lados desde o Pelourinho à feira de São Joaquim, onde sou reduzido e vendido pelos herdeiros daqueles que me levaram em sua saliva e suor. Represento o povo daquela Bahia em que cheguei, o povo do dendê!
Estou no tabuleiro da baiana, nas mãos dos mascates, no fuá da feira, no som do berimbau, nas cantigas do baiano, “no feitiço dela, na cor de canela, tem dendê”!
Trazido pelos ventos cheguei na Unidos da Ponte que há quarenta anos trazendo oferendas em louvor aos orixás! Tem baiana servindo acarajé na Praça da Matriz. Sem dendê não tem candomblé, pois sou o mariwó da porteira, estico o couro dos atabaques, tempero as comidas de santo.
A Ponte esquece o banzo, pois é hora de oferecer! Tem amalá para Xangô lá na pedreira, tem caruru para os erês, tem brincadeira! Tem comida, tem mandinga, tem resistência, tem axé! Axé! O Samba pisa forte no terreiro.
É mistério, magia, mandingueiro! Tem axé em São João de Meriti! EU SOU O DENDÊ!
Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Ponte
Fundada em 03/11/1952
Presidente Tião Pinheiro
Sinopse do Enredo - Carnaval 2024 “Tendendém - O Axé do Epô Pupá”
Autor do Enredo e da Sinopse: Renato Esteves
Colaboradores do Enredo e Pesquisa: Alexander Brivio , Jefferson Brunner e Marcelo Machado
Edição e revisão textual: Jefferson Brunner
Contribuição de arte na logo: Guilherme Kid




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